domingo, 8 de janeiro de 2012

Já dizia Manuel Bandeira: O bicho,meu Deus, era um Homem!

    Era 6 horas da tarde, me dava a contentamento de um andar saltitante pelo fim de mais um expediente. Embora um emprego opcional, a carga de responsabilidade e cansaço  são os mesmos. Mas foi então que fomos surpreendidos novamente, quando me dei conta que meu estômago embrulhava e eu tapava, com minhas duas mãos, meus olhos e minha cara de nojo para um ser, tal qual como eu, uma essência entre um cérebro e dois pés. O ser se dispunha a revirar o latão de lixo da minha casa de empada preferida, em busca do resto do que para mim fora meu delicioso café da tarde. É claro que a pessoa que vinha de frente comigo observou minha reação, e chegou a esboçar, inclusive, uma risada, acredito eu, de deboche.
    Tomou conta de mim um absoluto sentimento de compaixão e de valorização da vida, mas que passou com a próxima vitrine em promoção, afinal o que me dói mesmo é uma frustração inteiramente pessoal, uma vaga perdida da UFRJ. Peço desculpa por meus olhos se manterem secos por aquele homem. Eu não sou uma fútil e egoísta, gostaria muito de ter presenteado crianças que esperaram o presente do Papai Noel, queria, sinceramente, ter proporcionado uma ceia para quem passa fome (tal qual minha mãe fez e eu tive o prazer de acompanhar), mas eu não sou hipócrita, não vou sair por ai chorando por essas pessoas, gritando por igualdade enquanto espero meu próximo salário para comprar uma câmera fotográfica profissional, talvez para fotografar a desgraça, inclusive, daquele ser mal trapilho que observei alimentar-se do lixo. Passo a acreditar que um dos piores defeitos da humanidade é a falsidade que impede as verdadeiras atitudes, o triste discurso de quem apenas lê, diz e prefere aguardar do sofá a paz mundial. Claro que não espero que todos saiam por ai trocando os lixos por banquetes, mas gostaria que as pessoas falassem menos, julgassem menos e agissem mais, é muito cômodo apontar os outros, é muito simples digitar um post no facebook, eu gostaria apenas que as pessoas pensassem por conta própria sem parafrasear grandes figuras de nossa história. Que ao menos se incomodassem com um HOMEM se alimentando do que descartamos com tanto desprezo. Desesperançoso é constatar que há reações ainda mais medíocres do que a minha.